As possibilidades de atuação do campo da engenharia são infinitas. Além de trabalhar na resolução de questões emergentes da sociedade, o engenheiro também pode desenvolver e aprimorar tecnologias que forneçam experiências de lazer para o público. O sistema de som imersivo MPEG-H ilustra um desses casos em que a engenharia atua em prol do entretenimento.
No ano passado, a 8ª edição do Rock in Rio, realizada no Rio de Janeiro, contou com uma transmissão ao vivo pelo serviço de TV terrestre ISDB-Tb, HLS streaming e 5G, utilizando o MPEG-H Audio, recentemente adotado pelo Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) para aumentar a atratividade do serviço. A transmissão, realizada pela Rede Globo, foi a primeira ao vivo de ponta a ponta utilizando o MPEG-H Audio no Brasil.
A transmissão foi realizada por meio de uma parceria da Rede Globo com o instituto de pesquisa alemão Fraunhofer IIS.
Para nos contar o que é o sistema MPEGH-H Audio, como foi o processo de transmissão e o que podemos esperar da tecnologia, entrevistamos o engenheiro de som do Fraunhofer ISS, Yannik Grewe, um dos responsáveis pelo teste realizado no Rock in Rio.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
VDI-Brasil: O que é a tecnologia MPEG-H Audio?
Yannik Grewe: O sistema de áudio MPEG-H é uma tecnologia de última geração que fornece som imersivo e interativo e uma experiência aprimorada para serviços de transmissão e novas mídias, como música imersiva, streaming de vídeo 4K ou Realidade Virtual.
Usando o áudio baseado em objeto, além de uma abordagem baseada em canal herdado, o MPEG-H permite recursos avançados de personalização, de forma que os espectadores ajustem o mix de som às suas preferências dentro dos limites definidos pelo provedor de conteúdo. Com o MPEG-H Audio, as emissoras podem entregar seu conteúdo com eficiência em vários idiomas e oferecer opções avançadas de acessibilidade para usuários com deficiência auditiva ou visual.
O MPEG-H Audio também oferece som imersivo e realista semelhante ao cinema, combinando canais e objetos. Os recursos do áudio tradicional, baseado em canal, são aprimorados pela introdução de canais de altura acima ou abaixo do ouvinte, enquanto os objetos de áudio estão localizados precisamente no espaço 3D e renderizados com precisão para a melhor experiência sonora, independentemente do dispositivo do consumidor ou do ambiente auditivo. Isso permite a reprodução de uma impressão sonora realista, como se o usuário fizesse parte do cenário. Os dispositivos mais comuns para o som imersivo do áudio MPEG-H são barras de som 3D ou fones de ouvido usando renderização binaural.
VDI-Brasil: Essa tecnologia já está disponível no Brasil?
Yannik Grewe: O áudio MPEG-H é padronizado em ATSC 3.0, DVB, 3GPP e, mais recentemente, foi incluído na especificação ISDB-Tb para transmissão no Brasil. O fórum do SBTVD (Sistema Brasileiro de Televisão Digital) selecionou o MPEG-H Audio para inclusão como um sistema de áudio adicional nas especificações ISDB-Tb. Isso permite que as emissoras entreguem som imersivo e personalizado aos telespectadores brasileiros pelo sistema SBTVD / ISDB-Tb existente, transmitindo simultaneamente o áudio MPEG-H juntamente com o áudio AAC existente. Além disso, o sistema já está especificado no conjunto de padrões DTV Play para oferecer experiências interativas em plataformas híbridas usando streaming e transmissão.
VDI-Brasil: O que é preciso para ter acesso a essa tecnologia?
Yannik Grewe: Para experimentar os recursos de áudio da próxima geração do sistema MPEG-H, muitos dispositivos eletrônicos de consumo já suportam a tecnologia. Com aparelhos de TV e decodificadores de vários fabricantes, bem como barras de som imersivas disponíveis comercialmente, os telespectadores poderão acessar a tecnologia em casa – ou em qualquer local – no futuro próximo.
As tendências de consumo de conteúdo mudaram drasticamente para as gerações mais jovens, que usam cada vez mais dispositivos móveis e fones de ouvido. Por esse motivo, a tecnologia MPEG-H oferece também a possibilidade de experimentar som imersivo em fones de ouvido. A introdução de novas tecnologias, hoje, pode ser muito mais rápida para aplicativos de streaming móvel do que para a televisão tradicional.
Para o lado da criação de conteúdo, uma ampla variedade de opções para equipamentos profissionais de produção e transmissão está disponível para emissoras e criadores de conteúdo.
VDI-Brasil: Como foi o processo de testes de transmissão realizados no Brasil?
Yannik Grewe: O primeiro teste usando o MPEG-H Audio no Brasil foi realizado durante o Carnaval do Rio de Janeiro de 2019 pela Fraunhofer IIS e pela TV Globo. Nesse momento foram avaliadas as ferramentas de produção necessárias para permitir recursos avançados de personalização. Posteriormente, atuamos novamente em parceria com a emissora para os testes de transmissão no Rock in Rio.
A mistura imersiva usando 5.1 surround mais quatro canais de altura foi produzida pelos engenheiros de som da Globosat, que disponibilizou várias hastes mono e estéreo para ambientes, instrumentos ou vocais. Os engenheiros de som da Fraunhofer usaram essas hastes para enriquecer o mix ao vivo com objetos de áudio, permitindo a personalização da experiência do usuário, aprimorando o nível do ambiente ou movendo os vocais para a camada de alto-falante de altura.
Foi uma experiência incrível trabalhar com a Globo durante o Rock in Rio para configurar a primeira transmissão ao vivo de ponta a ponta usando o MPEG-H Audio no Brasil. A complexidade de tais eventos importantes é realmente impressionante. Estamos muito felizes por podermos mostrar os recursos e as vantagens do MPEG-H e, ao mesmo tempo, demonstrar como é fácil integrar o MPEG H Audio a essa configuração. Essa grande conquista representa apenas o começo de nosso compromisso de longo prazo de apoiar a Globo e a indústria de mídia brasileira no uso do MPEG-H Audio em seus serviços regulares.
VDI-Brasil: O que podemos esperar em um futuro próximo?
Yannik Grewe: Muitas novidades e anúncios de novos produtos serão compartilhados muito em breve. Mais e mais testes de transmissão serão realizados nas áreas do Rio de Janeiro e de São Paulo; e esperamos que, no final do próximo ano, serviços regulares usando o MEG-H Audio estejam disponíveis no Brasil.