Colaboradores enfileirados, com suas apostilas em mãos, acompanhando a exibição de uma apresentação em PowerPoint. Esse cenário marcado pela previsibilidade e monotonia dos treinamentos tradicionais tem motivado muitas empresas a inovar nas formas de capacitar seus funcionários, recorrendo à adoção de práticas baseadas na gamificação (do inglês, gamification). Trata-se da aplicação de mecânicas de jogos em diferentes áreas, a fim de alcançar objetivos como engajamento, motivação, retenção de conhecimentos e colaboração.
Estudo da P&S Market Research aponta que o mercado global de gamificação pode atingir cerca de 23 milhões de dólares até 2022. Isso devido a fatores como a crescente aplicação da gamificação no setor corporativo, a crescente penetração de gadgets com exibição e a ampla aceitação das redes sociais.
O propósito de aplicar mecanismos característicos de jogos nas empresas vai muito além de proporcionar dinâmicas divertidas, a intenção é possibilitar metáforas com o cotidiano corporativo.Neste sentido, a gamificação é estratégica para construir ambientes nos quais os colaboradores aprendam a tomar decisões e possam errar sem gerar transtornos reais.
Considerando que o ambiente de trabalho é, com frequência, volátil, incerto, complexo e ambíguo (do inglês, VUCA), os jogos precisam refletir esses aspectos, para que os colaboradores saibam como agir em situações reais. Ou seja, devem ser voláteis porque o mundo está em constante e acelerada mudança; precisam ser incertos, pois não há padrões definitivos; complexos, uma vez que as pessoas lidam com um grande volume de informações todos os dias; e ambíguos, já que não existem situações ou pontos de vista absolutos.
Ao reunir todas essas características no cenário controlado de um jogo, a empresa prepara o colaborador para que ele lide com diferentes variáveis, analise situações de sua rotina de trabalho por outros ângulos, experimente desfechos diferentes daqueles aos quais está acostumado e conheça múltiplas possibilidades para melhorar o desempenho de sua função.
A Gerdau, por exemplo, lançou, em todas as suas unidades industriais do mundo, um treinamento em segurança que combina gamificação e realidade virtual. Nele, é como se o colaborador estivesse em um pavilhão industrial com máquinas, empilhadeiras e andaimes. Conforme caminha pelo ambiente, o participante deve identificar situações de risco e classificar o seu potencial de severidade em alto, médio ou baixo. Ao chegar à saída da área, ele recebe um feedback a respeito de sua atuação, quantos riscos não identificou e quais categorizou de maneira correta.
Para além do uso nas capacitações e treinamentos, internamente, as companhias têm empregado a gamificação para selecionar novos colaboradores, envolver pessoas com suas metas de produção,incentivá-las a se familiarizarem com novas tecnologias, tornar mais agradáveis tarefas consideradas tediosas ou repetitivas, diminuir distrações e aumentar a produtividade. Gabe Zichermann, um dos maiores especialistas mundiais no assunto, divulgou, em 2013,que a gamificação contribui para aumentar a produtividade dos funcionários em até 40%.
Mercado
Se por um lado a gamificação auxilia na melhoria do ambiente interno das corporações, na outra ponta, externamente, o uso das mecânicas de jogos pode trazer vantagens competitivas para as empresas. Isto porque possibilita aumentar o engajamento dos clientes com a marca e, consequentemente, a sua fidelização, além de gerar feedbacks valiosos para as empresas, os quais podem nortear ações futuras.
Com o objetivo de envolver os adeptos de atividades físicas e levar seus treinos para um nível mais profissional, a Nike criou uma plataforma de gamificação chamada Nike Plus. Nela, o usuário tem toda a sua atividade física registrada em um só lugar, conta com coaching pessoal para ajudá-lo a atingir seus objetivos, e pode se conectar e competir com seus amigos.
Para lembrar
O sucesso no uso da gamificação no universo corporativo – seja internamente ou externamente – depende de planejamento e alinhamento com os objetivos de cada empresa, em cada ação.
Segundo a PhD e designer de jogos Jane McGonigal, todos os jogos, independentemente de gênero ou faixa etária, têm quatro características: meta, regras, sistema de feedback e participação voluntária.Mas vale lembrar que, para aplicar a gamificação, não necessariamente é preciso criar jogos, basta adotar mecanismos característicos deles, como estabelecer desafios, pontuações e recompensas.
O importante é conhecer bem o público-alvo e saber como superar as expectativas dele.Além disso, é fundamental definir os objetivos pretendidos com a iniciativa, os recursos necessários e os processos a serem gamificados e, também, as ferramentas a serem integradas ou desenvolvidas para essa finalidade, a fim de capturar o comportamento dos usuários e registrar feedbacks. Por fim, é necessário monitorar os resultados, para ajustar as ações e melhorá-las frequentemente.
Como anda a relação com colaboradores e consumidores da sua empresa? Já pensou em investir em ações de gamificação para impulsionar a produtividade e os resultados internos e externos? Participe do cluster de Produtividade Industrial da VDI-Brasil e saiba mais sobre como grandes corporações têm tratado deste assunto. E por falar na busca pelos melhores resultados, vem aí o VIII Simpósio Internacional de Excelência em Produção: Big Data Brasil – Digitalizando Competitividade, promovido pela VDI-Brasil. Uma excelente oportunidade para discutir tendências!