Trabalhar na resolução de problemas é a essência do trabalho do engenheiro. Nos últimos tempos, os debates e discussões que tratam sobre o desenvolvimento de soluções utilizando conhecimentos de engenharia estão ficando mais interdisciplinares. Isso se dá pois o mundo está ficando mais complexo, o que demanda a necessidade da engenharia de se adaptar a essa realidade.
Cada vez mais, “novas engenharias” têm surgido, como as engenharias genética, biomédica, de bioprocessos, de inovação, dentre outras. O aumento da expectativa de vida da população tem criado novos desafios para a sociedade e os engenheiros, que agora também têm intersecções com o campo da gerontologia, a ciência que estuda o envelhecimento humano.
Há muitos exemplos a serem utilizados para expressar a ampla gama de atuações em que o conhecimento técnico de engenharia é somado a fatores singulares de outros campos para, em conjunto, construir soluções para problemas emergentes.
Um destes casos é o projeto Connect #TeamVDI, que reuniu estudantes de engenharia do Brasil e da Alemanha para desenvolverem uma solução para o problema de segurança alimentar que ocorre no mundo. Outro caso a ser destacado é o da comissão criada pela VDI na Alemanha para investigar a presença de microplástico no ar, que é prejudicial para a saúde.
Nos exemplos citados acima, é evidente a necessidade de que equipes de diferentes áreas trabalhem sinergicamente, unindo o conhecimento de seus respectivos campos.
Com este mesmo propósito de criar soluções para questões relevantes, Carolina Sallati, pesquisadora do Laboratório de Sistemas Computacionais para Projeto e Manufatura (SCPM) da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) está buscando em tecnologias e práticas de Indústria 4.0 recursos para contribuir em sua área de formação: a gerontologia.
A média de expectativa de vida da população aumenta a cada ano. Em um período de vinte anos (1986 até 2016) passou de 64 para 72 anos, segundo dados do Banco Mundial. Em países desenvolvidos, como o Japão ou a própria Alemanha, esse número alcança os 84 ou os 80 anos, respectivamente. A tendência é que esse número continue crescendo nos próximos anos.
Com a população vivendo por mais tempo, aumenta a demanda por produtos e serviços específicos que contribuam para o bem-estar e forneçam qualidade de vida para os idosos.
Partindo desse ponto, Sallati elaborou o projeto de conclusão de curso de sua graduação em Gerontologia focado em processos de desenvolvimento de produtos e adaptações que podem ser feitas em aparelhos de oxigenoterapia. Posteriormente, iniciou o mestrado em Engenharia de Produção tendo como subárea a Gerontecnologia.
“Queria entender mais sobre o desenvolvimento de produtos inteligentes, então recebi a indicação do professor Klaus Schützer, da Unimep. Logo no início do mestrado ele me apresentou os conceitos de Indústria 4.0 e então surgiu a questão: por que não unir Indústria 4.0 e Gerontologia para criação de soluções inteligentes para os idosos?” destaca Sallati.
O mestrado teve como resultado um Framework Conceitual para o Desenvolvimento de Produtos Inteligentes para Idosos no Contexto da Indústria 4.0.
“Eu pesquisei qual era o processo de desenvolvimento e o mercado para produtos inteligentes, o que poderíamos aproveitar dos dados que são gerados durante a fase de uso. Levei em consideração as particularidades do público idoso. Existe uma grande variedade de produtos inteligentes, mas nem sempre atendem ao que essas pessoas esperam” afirma Sallati.
Gerontecnologia
A Gerontecnologia é um campo acadêmico e profissional multidisciplinar que combina gerontologia e tecnologia. Tem como foco a sustentabilidade de uma sociedade em envelhecimento, que depende da eficácia na criação de ambientes tecnológicos, incluindo tecnologia assistiva e design inclusivo.
No Brasil, o termo ainda não é muito conhecido, porém está se popularizando cada vez mais. Em 2017, foi fundada a Sociedade Brasileira de Gerontecnologia – SBGTec, que, anualmente, realiza o Congresso Brasileiro de Gerontecnologia para debater assuntos referentes ao tema.
“As pessoas com até 30/35 anos cresceram em um mundo com avanços tecnológicos, portanto se acostumam mais rápido com as mudanças. Já os idosos não conviveram com esses recursos, e nem sempre enxergam a necessidade ou os benefícios de tecnologias de auxílio, por isso temos que trabalhar em soluções simples, no sentido de serem diretas, e eficazes, que consigam atender às expectativas de consumo dessas pessoas. Um ponto muito interessante sobre a Gerontecnologia é que estamos desenvolvendo ferramentas que são para os idosos de hoje, mas também vamos chegar nessa fase, ou seja, não é para um público específico e sim para todos nós” finaliza Sallati.
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