Dentro do contexto de Indústria 4.0 já é clara a importância da padronização. Entretanto, hoje, a complexidade do assunto e a redundância de definições ainda impedem a consolidação de ferramentas robustas de análise. Afinal, quais normas meu produto precisa atender para ser considerado I4.0?
Para a VDI, por meio da diretriz VDI 4000, já é bastante clara a definição de relevância da Indústria 4.0. Ela é valida para todas as organizações, desde que elas participem de cadeias de valor com um produto físico como output final.
Um assunto central dentro das discussões de I4.0 é a interoperabilidade, afinal, a revolução industrial não pode acontecer apenas dentro de uma única empresa. Ela se torna importante quando transforma uma cadeia de valor inteira de Indústria 4.0 por meio da integração horizontal das tecnologias aplicadas.
Muitas das nossas diretrizes tratam, exatamente, sobre como transformar uma organização, deixando-a pronta para a I4.0. Mas, a questão central é: o que isso significa para o meu produto? O que ele precisa ter ou passar a ter para ser compatível com essa indústria? Como vou contribuir para o processo de transformação do meu cliente?
Sem dúvidas, todos têm um grande desafio pela frente. A Alemanha, o países berço da Indústria 4.0 acaba de lançar um novo relatório com os principais campos de ação para a implementação da I4.0 e o documento deixa claro que a jornada está muito longe de ser concluída, que há muito trabalho pela frente. Entretanto, algumas das principais rupturas em relação à cadeia de valor da indústria estão prestes e se tornarem realidade.
O material evidencia o fato de que a digitalização viabiliza uma quarta revolução industrial por meio da implementação da I4.0. Isso reforça a ideia de que o conceito de I4.0 tem muito a ver com a questão da prontidão da empresa em participar da cadeia de valor que, por sua vez, será essa quarta revolução tão citada. A digitalização permeia tudo isso como fenômeno macro, pois ela acontece em toda a sociedade. Por fim, destaca-se como ponto chave para todo o processo a agilidade para se reagir a uma informação digital.
Manuais de boas práticas
Na Alemanha, a VDI é uma das principais instituições que cria manuais de boas práticas para a engenharia. Hoje, a associação tem mais de 2 mil materiais publicados, que são constantemente atualizados. Muitos desses documentos são diretrizes para a I4.0 e suas vertentes. No Brasil, o papel da VDI é a adaptação dessas diretrizes e boas práticas ao país, a promoção do intercâmbio de conhecimento e a implementação dessas boas práticas junto às empresas associadas.
Mas, por que a questão da padronização é tão importante nesse contexto? A automação, mesmo com acesso à rede e integrada a um sistema central é algo que já existe há muito tempo: a nuvem, a rede para automação industrial e para o oferecimento de serviços online já são utilizadas faz tempo. Não é essa a novidade quando se fala da I4.0.
O que é novo é a transição da Intranet para a Internet, a transição da conexão da cadeia como um todo, ou seja, as organizações abrem as redes internas, a conectividade que já existe em seus departamentos, equipamentos etc., para os seus parceiros para cooperação, seus fornecedores e clientes. É exatamente esse o grande diferencial da Indústria 4.0: quando você começa a agregar valor pelo fluxo de informações entre parceiros e a agilidade que você ganha através disso, criando novos modelos de negócios e aplicações que se tornam viáveis exatamente por conta dessa cadeia.
Com isso dito, torna-se claro que, para que essa integração ao longo da cadeia funcione e agregue, de fato, valor e agilidade, é preciso uma estrutura de comunicação, redes e protocolos. É preciso focar em uma linguagem comum entre os componentes de sistemas da I4.0.
Caracteres, alfabeto, vocabulário, estrutura de frases, gramática, semântica, pragmática e cultura comum. É isso que tange a comunicação não só entre máquinas, mas entre ser humano e máquinas, e ser humano e ser humano. Essa padronização é vital para que I4.0 se realize.
Com isso, já conseguimos observar que estamos falando de um campo de tensão entre soberania de mercado e liberdade/autonomia da iniciativa privada para desenvolver a tecnologia e garantir a segurança das informações, disponibilizar a infraestrutura digital, entre outros pontos. Nesse princípio, o mercado livre não pode ser alterado, não pode ser ferido, porém, é preciso conciliar isso com a interoperabilidade dos sistemas aplicados, senão você não ganha o valor agregado nesse sentido. Então, precisamos estimar relatórios, padrões, integrações e sistemas descentralizados com Inteligência Artificial. Para isso, você precisa de interoperabilidade entre os sistemas aplicados.
Por onde começar?
Um dos nossos principais discursos nos últimos anos foi justamente desmistificar essa questão de que começar a Indústria 4.0 é muito custoso e requer investimentos muito altos desde o início. É importante começar desde agora. Começar não é tão custoso quanto as empresas imaginam, porém, nós precisamos saber para onde a I4.0 está caminhando a longo prazo, justamente para saber em qual contexto estamos inseridos.
Um caminho para esse início seria justamente o nosso manual de boas práticas VDI 4000, que tem como ponto de partida que o objetivo final da I4.0 é extrair valor do fluxo de informações ao longo da cadeia de valor. Se olharmos para a realidade da grande maioria das empresas, hoje, o maior problema é que muitos colaboradores e tomadores de decisão passam grande parte do dia deles na busca e espera pelas informações certas. Então, a disponibilidade das informações certas, com dados contextualizados, ou seja, o dado certo para a pessoa certa, no formato certo, no contexto certo. Essa é a situação inicial que precisa mudar para que esse fluxo de informações ao longo da cadeia de valor possa se concretizar.
Aqui, todo o nosso conhecimento da I4.0 é baseado na agilidade da tomada de decisão em cima de informações, ou seja, é preciso fazer com que esse fluxo de informações, num primeiro momento, ocorra de forma mais ágil dentro da empresa, para que ela, por meio disso, possa se inserir em uma cadeia de valor digital de fato. Aqui, isso é baseado na ocorrência de um evento, que pode ser desde algo de curto prazo, como uma parada de uma máquina não planejada, de médio prazo, como a encomenda de um produto personalizado, ou de longo prazo como, por exemplo, uma mudança da expectativa da cotação de dólar pro ano que obrigue a organização a repensar a sua política de importação/exportação, considerando novos fornecedores no exterior etc.
Então, há esse evento como ponto inicial. A primeira perda de tempo ocorre até que esse evento se torne conhecido, ou seja, a informação de que o evento ocorreu chegue à pessoa certa com a informação contextualizada. O segundo gap de tempo que já é para a análise dessas informações. O próximo momento de gap é a partir dessa tomada de decisão. Quando a contramedida é aprovada, de fato, há um último gap de tempo até ela se manifestar, de fato, no mundo físico novamente.
Então, na visão da VDI, a agilidade é, realmente, o elemento central da Indústria 4.0. É preciso ter um conjunto de medidas dentro da organização, que tange recursos técnicos e humanos, sistemas de informações, a estrutura organizacional e a cultura da empresa, que tornem mais curtos esses gaps de tempo. Ou seja, se olharmos para o primeiro Gap, podemos aplicar a integração de sistemas e aumentar a capacidade de computação em tempo real, para que o conhecimento sobre o evento se torne disponível mais rápido e de forma mais ágil.
Isso é algo que precisa ser feito em todas as medidas que tangem recursos, tanto pessoais quanto técnicos, sistemas de informação, estrutura organizacional e a cultura. Todos esses campos de ação precisam ser desenvolvidos de uma forma coerente para você, de fato, viabilizar essa agilidade rumo à inserção em cadeias de valor na I4.0.
“O papel da VDI na Alemanha se concentra nesses campos de recursos e de sistemas da informação, afinal, esses são os problemas que nós, enquanto engenheiros, estamos mais acostumados a lidar. Então, a grande mudança para o engenheiro como profissional, os maiores desafios, segundo a nossa visão, dentro das organizações, é o de conciliar essas mudanças com uma estrutura organizacional à altura e a mudança da cultura interna. Por fim, avaliando novamente o relatório elaborado, pode-se constatar que a ausência de interoperabilidade restringe ganhos de agilidade nesse conceito que mostramos da velocidade do fluxo de informações. A rapidez só se torna viável se todos os sistemas e autores envolvidos tiverem interoperabilidade, sejam interoperáveis em termos do fluxo de informações, reforçando a importância desses guias e manuais de boas práticas”, finaliza Johannes Klingberg, Diretor Executivo da VDI-Brasil.