O segundo painel do Dia da Engenharia Brasil-Alemanha teve como moderador José Borges, vice-presidente da VDI-Brasil e diretor de Digital Industries da Siemens. Para ele, a construção de fluxos de informações eficientes é uma das chaves da Indústria 4.0. “Na Alemanha, o conceito de Indústria 4.0 surgiu como uma oportunidade de utilizar todas as tecnologias disponíveis para aumentar a produtividade da indústria, integrando sistemas digitais e mecânicos, aumentando a produção e reduzindo o tempo de lançamento de produtos”, conta.
Porém, segundo ele, esses benefícios só são, de fato, atingíveis com a integração vertical do fluxo de informações, ou seja, dentro de uma empresa, passando pela fábrica até o ERP, mas, também, com a integração horizontal, com a troca de dados entre diferentes empresas, fornecedores e clientes. “Isso envolve desafios que vão além da integração tecnológica, pois exige que as pessoas e as empresas mudem o seu mindset em relação aos seus dados”, complementou.
Aprofundando o tema, Jefferson Almeida, gerente sênior de Desenvolvimento da Rede de Fornecedores da Bosch, trouxe o case do “Programa de Desenvolvimento de Fornecedores I 4.0”, que tem como objetivo envolver pequenas e médias indústrias, fornecedoras da Bosch, incentivando-as para que elas ingressem na Indústria 4.0. “Um dos grandes desafios nossos foi quebrar diversos paradigmas. O principal deles foi o de que a Indústria 4.0 só funciona para empresas com maquinários de novos”, explicou.
O programa auxiliou os fornecedores da Bosch a conectarem sensores a máquinas de 10, 20 anos, que ainda são úteis no ambiente fabril, reduzindo drasticamente o investimento das pequenas indústrias. “Na segunda etapa do programa, implantamos nos fornecedores os softwares de análise de dados. A maioria das empresas participantes amortizou o investimento em menos de um ano, apenas com os ganhos da interpretação dos dados correntes de suas linhas de fábrica. Agora, partiremos para uma terceira fase, em que vamos introduzir a Inteligência Artificial e Data Analytics, para que eles atuem de forma preditiva”, falou Almeida.
O executivo ressaltou, ainda, que o programa possuía um foco aprofundado no desenvolvimento de pessoas, com diversos eventos de conscientização, treinamento e até a instalação de painéis eletrônicos que mostravam as estatísticas dos sistemas obtidas em tempo real.
O terceiro participante do painel, Thomas Vollmer, Diretor de Qualidade de Produção do Fraunhofer IPT, contribuiu com a discussão ressaltando que, para pequenas empresas, soluções simples de Indústria 4.0 podem trazer ganhos enormes. “A instalação de sensores de medição de energia em tempo real pode gerar um grande impacto na redução de custos, pois ela conscientiza o operador a utilizar melhor os recursos disponíveis. Esse tipo de tecnologia pode ser empregado em qualquer máquina”, ressaltou.
No entanto, Vollmer enfatizou, também, que é preciso ir além do fluxo vertical de dados para obter ganhos maiores. “Auxiliamos uma empresa da área de eletrônica a implantar a rastreabilidade ao longo de sua cadeia de fornecedores e, para apenas uma linha, a economia foi de algumas centenas de milhares de euros, já no primeiro ano. Saber com precisão o fluxo de produção e reconhecer erros rapidamente são ganhos preciosos, mas que só acontecem com a integração de todos os elos da cadeia”, apontou.
Rodrigo Teixeira, Diretor do IPT Open Experience, acredita que uma das soluções para a integração horizontal de dados é a tecnologia do Blockchain. “Essa base de dados descentralizada e distribuída permite fazer transações monetárias ou de informações estratégicas com segurança. Tenho certeza de que será uma das principais tecnologias aplicadas para essas soluções”, apontou.
Outra aposta, para Teixeira, é no conceito de inovação aberta, justificando o investimento do IPT na criação do IPT Open Experience. “Criamos um ponto de encontro para empresas, pessoas, startups e o próprio centro de pesquisa para mitigar os riscos da inovação. A Indústria 4.0 demanda um fluxo de informações livre e eficiente, e precisamos de espaços para desenhar isso”.
Por fim, Laetitia d’Hanens, sócia sênior do escritório de advocacia Gusmão & Labrunie, especializado em propriedade intelectual, complementou a discussão com uma perspectiva do direito para o tema. “Temos falado cada vez mais de velocidade, compartilhamento e parcerias entre empresas e instituições. Tudo isso é muito importante, mas não podemos nos esquecer de que esses relacionamentos precisam ser pautados por acordos de base claros e objetivos. O direito de propriedade intelectual permite que uma tecnologia seja explorada por diferentes players, ao mesmo tempo, em níveis, localidades e de formas distintas. Porém, isso precisa ser documentado”, concluiu a advogada.