Há um tempo atrás, era impensável instituições de ensino superior montarem rodadas empresariais com companhias trazendo seus problemas para estudantes pensarem em soluções. Mais incomum ainda era criarem centros para abrigar empresas nascentes e estimular uma formação empreendedora. Mas, hoje, ações como essas e muitas outras se tornaram essenciais para a formação dos futuros engenheiros no Brasil e no mundo.
Por aqui, tradicionalmente, a relação entre universidades e o setor privado tem sido bem distante. Em um levantamento feito pela VDI-Brasil no ano passado, durante um workshop na Escola Politécnica da USP, a maioria dos profissionais revelou que a própria empresa não tinha um acordo de colaboração em criação tecnológica com universidades. Além disso, manifestou ter consciência de que o relacionamento entre empresas e universidades é fraco também por conta de burocracias jurídicas e questões de propriedade intelectual.
Nos últimos anos, ambos têm trabalhado lado a lado para impulsionar seus resultados e superar desafios, com alguns exemplos frutíferos que mostram o potencial de cooperação entre empresas e universidades.
Desafios
Para o reitor do Centro Universitário FEI, Fábio do Prado, um dos grandes desafios das universidades e instituições de ensino é a criação de espaços adequados e permanentes de discussão de problemas da indústria.
“Tenho convicção que a partir de um diálogo aberto e da identificação dos ‘pain points’ dos possíveis parceiros, muitas das barreiras ainda existentes serão derrubadas e se compreenderá que as dificuldades não são tão grandes como ainda se pensa. Cada dia mais, as complementariedades dos papeis e funções da Academia e da Empresa têm se tornado elemento estratégico para o desenvolvimento de novas ideias”, comenta Prado.
Outra preocupação diz respeito ao currículo dos cursos de engenharia, ainda muito centrados em um modelo academicista, que preza pelos conteúdos, mas não incentiva projetos inovadores individuais e a troca de experiências, o aprendizado prático nas empresas.
Para estreitar laços com o mercado e vencer algumas barreiras, as universidades têm repensado o currículo dos futuros engenheiros, aproximando-os de problemas reais nas empresas e fomentando neles o espírito empreendedor, como veremos nos dois exemplos a seguir.
Aproximação entre estudantes e profissionais
As instituições que participam do cluster iEngineer da VDI, buscam conectar seus futuros engenheiros ao mercado não apenas convidando empresários para realizar palestras junto aos alunos, como também promovendo as chamadas rodadas empresariais. Nestas ocasiões, as companhias levam seus problemas de difícil solução para que os alunos e seus orientadores trabalhem em potenciais respostas. Trata-se de uma forma de incentivar o aluno a desenvolver sua criatividade e ousadia, habilidades essenciais para quem deseja inovar.
Para o reitor da FEI, as instituições já estão se atualizando para oferecer uma educação mais atenta às questões reais. Entretanto, ainda há um longo caminho até que as sejam plenamente capazes de formar futuros engenheiros empreendedores, que pensem de maneira estratégica e aptos a solucionar problemas reais.
“Grandes passos ainda deverão ser dados para proporcionar um ensino menos academicista e mais articulado com as demandas produtivas, capaz de induzir inovação. “Engenheirar” demanda, fundamentalmente, a integração com o ambiente industrial e empresarial, e este diálogo – Academia e Indústria – deve ser praticado ao longo de todo o processo de formação, alinhando conceitos e interesses, e desmistificando alguns discursos tradicionalistas, a meu ver não mais válidos, de confronto entre formação científica básica e formação profissional. Esta fronteira está cada vez mais tênue nos dias de hoje”, enfatiza Prado.
Espaços para desenvolvimento de empreendedorismo
Outro exemplo de boa prática para aproximar instituições de ensino e mercado, e proporcionar diferentes experiências para os futuros engenheiros, é o investimento em parques científicos e tecnológicos como o da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), que abriga cerca de 130 organizações e incentiva a pesquisa e inovação por meio de parcerias entre a universidade e as empresas.
Dentro do Tecnopuc, há projetos que estimulam a criação de startups, a parceria e colaboração entre estas empresas nascentes e grandes empresas como TOTVS, Motorola, Dell, HP, Microsoft. A iniciativa conseguiu inserir mais de 500 bolsistas diretos nas empresas, além de ter estimulado a transferência de tecnologia e ter incentivado o empreendedorismo e o desenvolvimento de projetos.
Para se aprofundar e acompanhar a discussão sobre como formar futuros engenheiros com uma boa base de conhecimento também de mercado, participe do nosso cluster iEngineer, que através da cocriação entre empresas e universidades constrói o engenheiro do amanhã.