Engenheiros químicos da Universidade de Califórnia, em Riverside, desenvolveram o primeiro combustível à prova de fogo do mundo. Eles sintetizaram um líquido que só entra em ignição com a aplicação de uma corrente elétrica. Dessa forma, é possível colocar uma tocha no combustível e, se não houver corrente elétrica, ele não vai queimar.
Como não reage às chamas, o combustível desenvolvido não causa incêndios acidentais durante o armazenamento ou transporte, tornando-o uma opção muito mais segura do que as existentes hoje.
Como funciona o combustível à prova de fogo?
De acordo com Yujie Wang, “o combustível que normalmente é utilizado em todo o mundo não é muito seguro, pois evapora, pode pegar fogo e é muito difícil de impedir isso. Quando a tensão é removida, fica muito mais fácil controlar a inflamabilidade do seu combustível e evitar que ele queime”.
Para elucidar, quando um combustível líquido, como etanol, diesel ou gasolina entra em combustão, não é o líquido em si que queima. Em vez disso, são as moléculas voláteis do combustível que pairam acima do líquido que se inflamam ao entrar em contato com o oxigênio e o calor. A remoção da fonte de oxigênio extingue a chama, porém isso é algo bastante difícil de ser feito fora de um motor, ainda mais em um incêndio acidental descontrolado.
Entendendo o processo
Segundo o coautor da descoberta, Prithwish Biswas, “se jogarmos um fósforo em uma poça de gasolina no chão, é o vapor do gás que está queimando. Você pode sentir o cheiro do vapor e saber, instantaneamente, que ele é volátil. Se você consegue controlar o vapor, você consegue controlar o vapor que queima”.
A base do novo combustível à prova de fogo é um líquido iônico, que é uma espécie de sal liquefeito. Segundo Wang, “é semelhante ao sal que usamos para dar sabor aos alimentos, que é o cloreto de sódio. O que é utilizado nesse projeto tem ponto de fusão inferior ao do sal de cozinha, baixa pressão de vapor e é orgânico”, explica.
Cientistas modificaram a fórmula do líquido iônico
O “truque” dos cientistas consistiu em modificar a fórmula do líquido iônico, substituindo o cloro (CI) pelo perclorato (NaCLO4), o que bastava para que o combustível parasse de queimar na chama, como acontece com o combustível normal antes da modificação química. Porém, bastava aplicar um campo elétrico ao novo combustível para que ele queimasse normalmente.
Segundo Wang, “assim que a corrente foi desligada, a chama desapareceu e foi possível repetir o processo indefinidamente, aplicando tensão, observando a evaporação, acendendo o vapor para que queimasse e depois desligando”. Os cientistas ficaram entusiasmados ao encontrar um sistema que pudesse iniciar e parar tão rapidamente.
Outras vantagens do combustível “à prova de fogo”
O aumento da corrente a que o combustível está submetido resulta em chamas maiores, com mais produção de energia. Assim, a técnica também poderia funcionar como sistema de medição ou aceleração de um motor.
Para o professor Michael Zachariah, “é possível medir a combustão dessa forma, e medir a tensão funciona como um interruptor, um recurso de segurança que desliga automaticamente a máquina caso o operador fique incapacitado”.
Uma propriedade interessante do líquido iônico é que ele pode ser misturado ao combustível convencional e, ainda assim, manter seu comportamento. No entanto, são necessárias pesquisas adicionais para entender qual porcentagem pode ser misturada e, ainda assim, não ser inflamável.
Ainda existem questões importantes que devem ser respondidas antes que o combustível ignífugo possa ser comercializado, sendo a principal delas o aspecto prático, mais especificamente quais modificações seriam necessárias nos motores para que pudessem utilizar o novo combustível. Mas a pesquisa já mostra um grande ganho em segurança nessa área.