Todos os anos, cerca de 100 mil icebergs se desprendem no Ártico ou na Antártida. Recentemente, a revista científica nature.com publicou um artigo sobre o transporte de icebergs da Antártida para regiões da África assoladas pela sede, a fim de solucionar o problema de escassez nessa região.
Muitos cientistas rejeitam esse plano, mas outros o veem como uma grande oportunidade. Seria esse um plano viável ou impossível?
Apesar de inusitado, esse não é um plano tão novo assim. Uma startup de Berlim também vive o sonho de combater a seca com icebergs.
Beber água de icebergs – uma solução para a sede do mundo?
O estudioso jurídico, cultural e de humanidades, Matthew Birkhold, começou a se perguntar se a sede do mundo não poderia ser saciada com água doce presa nos polos e geleiras. Afinal, cerca de dois terços da nossa água potável está ligada ao gelo. Atualmente, cerca de 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável. Mais de 9 mil pessoas morrem de sede todos os dias, incluindo cerca de mil crianças. As Nações Unidas assumem que este valor triplicará até 2050.
A empresa alemã Polewater teve a mesma ideia em 2010 e vem trabalhando para colocá-la em prática desde então. Nos Emirados Árabes Unidos ou na África do Sul, as pessoas sonham em usar icebergs como reservatórios de água potável, em vez de ter que gastar muito tempo dessalinizando a água do mar. No entanto, até agora, permaneceu em grande parte um sonho, pelo menos quando se trata de água glacial em grande escala.
Os icebergs devem ser separados do gelo?
Não, todos os planos conhecidos até agora partem do pressuposto de que apenas os icebergs que se soltaram da camada de gelo nos polos são usados - o especialista chama esse processo de “desprendimento de icebergs”. Em princípio, esse é um processo natural e não tem necessariamente a ver com as alterações climáticas, apesar de favorecido pelo aquecimento global. Dessa forma, acredita-se que, no futuro, os icebergs se separarão com ainda mais frequência do que agora. De acordo com especialistas da ONU, existem, atualmente, cerca de 100 mil icebergs no Ártico e na Antártida todos os anos.
Esses icebergs são frequentemente levados pelas correntes para águas mais quentes, onde lentamente derretem e se juntam à água do mar. Como água potável, eles são perdidos. No entanto, esses icebergs também não têm donos, então qualquer um poderia pegar esses blocos de gelo abandonados para vendê-los como água potável nas regiões secas do mundo.
Como os icebergs podem ser “transportados”?
A startup Polewater já desenvolveu uma tecnologia, mas ainda falta dinheiro para começar a transportar icebergs para climas mais quentes. Tudo começa com a procura de icebergs adequados – que não devem ser muito grandes, mas também não muito pequenos, para que o transporte valha a pena e o gelo não tenha derretido completamente antes que a montanha chegue ao destino.
A startup escaneia os potenciais candidatos com a ajuda de satélites. A empresa se concentra em icebergs fora de qualquer zona segura da Antártida, longe do continente antártico, no paralelo 60. Também é possível identificar icebergs que ainda não se desprenderam, mas já apresentam grandes rachaduras. Estes são então candidatos a futuras expedições. O tamanho inicial do alvo corresponde, no máximo, à área de um campo de futebol – de 90 a 135 metros.
Apenas a menor parte de um iceberg é visível, cerca de 90% está escondida na água. De acordo com Polewater, os chamados icebergs tabulares são os mais adequados para o transporte, pois são planos. Além disso, não devem pesar muito mais do que quatro milhões de toneladas, caso contrário, há um risco considerável de segurança e o consumo de energia é tão alto que pode ser considerado prejudicial ao meio ambiente.
Rebocadores oceânicos modernos e poderosos são usados para puxar e rebocar o iceberg. Com a ajuda de um mecanismo de reboque que se assemelha a correntes de neve, o iceberg deve ser acorrentado e levado ao destino. Ele não deve ser rebocado no verdadeiro sentido da palavra. Em vez disso, as correntes marítimas devem ser usadas para orientar os enormes blocos de gelo nos caminhos certos. Os rebocadores têm a função de garantir um transporte controlado e seguro.
O que acontece com o iceberg no destino?
Se o transporte do iceberg pelos oceanos já é complexo, fica muito mais difícil no destino. Mesmo que o pedaço de gelo perca parte de sua massa ao longo do caminho, ele ainda permanece enorme. Por exemplo, ele poderia flutuar descontroladamente em direção à costa e encalhar lá. A profundidade causa graves danos ao fundo do mar. Além disso, as massas de gelo desencadeiam fortes movimentos de ondas, o que pode representar um risco para a segurança das pessoas em trechos da costa densamente povoados.
Como a engenharia pode ajudar nesse plano?
Como pôde ser visto, a utilização de icebergs para a extração de água potável ainda apresenta muitos desafios. Mas a engenharia pode ajudar a tornar essa técnica mais viável e sustentável.
Dentre algumas soluções estão o desenvolvimento de técnicas que aceleram o processo de derretimento do iceberg, que ajudariam a reduzir o tempo necessário para a extração de água potável. Também poderia criar sistemas de transporte que tornem mais fácil o transporte de icebergs para locais onde a água potável é necessária.
A engenharia também pode projetar uma infraestrutura de armazenamento, tratamento e distribuição da água potável extraída do iceberg. Outra possibilidade é o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, uma vez que a extração de água potável de icebergs é uma atividade intensa em energia.
Por fim, a engenharia pode cuidar do monitoramento e controle ambiental, de modo a garantir que essa extração não cause impactos ambientais negativos.